25 de abril de 2011

Pro Rubens Milioli - Sem título

Impossível descrever quão glorioso é estar nos seus braços, pegar em você sem poder esperar, ansiando libidinosamente as prenuncias do nosso prazer. E quando você toca minha pele, morde delicada ou vorazmente meu pescoço, posso, com destreza, experimentar o delírio doce do ar quente que evapora dos seus lábios e aguçam meu lóbulo. Cada gota suave de adrenalina derramada no meu sangue faz pulsar esse querer e meu corpo pede toda sofreguidão de sentimentos. Pede seu peso sobre mim.

É o que acontece quando nossos corpos se tocam intrínsecos, fogo incendeia, queima e consome nossas almas. Por mais errôneo que seja – contrário – é o que detém nosso sabor, o paladar único de nós dois: amargo como metal e doce como mel. É a miscelânea de sabores que me faz sentir, o misto de prazer que me faz degustar.

E quando estamos agarrados um ao outro, boca com boca, pele com pele, pode-se ouvir o salutar dos nossos corações a bater juntos, uníssono. Chega a ser doloroso de tão intenso, chega a ser indecifrável de onde começa o eu e termina o você. Nosso prazer se fundiu naquilo que será um só, por uma noite antes que a tristeza volte e a saudade impere. Mas foi preciso... Pois foi só me perdendo em você que pude me encontrar.

6 de abril de 2011

Amante

Eis me aqui entre encantos delirantes, tenros e absurdos; eis me aqui para você. Para que experimente e se deleite suavemente, mas com hora para acabar. Entre e feche a porta, se dispa e se deite, já estou em aconchego a te esperar no nosso leito – nosso – por hoje e é assim.

Declame belas palavras, provoque os toques e carinhos, os anseios a que vem procurar. Estou aqui para ofertá-los e sabes que não peço nada em troca porque este é o meu lugar.

Estais aqui com toda esta aflição e me puxa para dentro de ti, te empurra para dentro de mim. Há tanto ódio e nenhum pudor. Desejos infinitos, cartas sobre a mesa e duas taças no chão. Recanto de paixão descompensada, de fúria e de força, de medos e de gozo. Sem espaço para problemas e cobrança, o que não torna menos cruel.

Então você vem e possui o meu corpo, simplesmente o entrego absorta e sinto uma vã solidão. Pois que sei que não se entrega completamente, apenas prova meu sexo e até quem sabe minha ira, deixando-me acompanhada de lágrimas, abraçando o travesseiro e em completo marasmo.

Outro dia retorna com a certeza de que as portas estarão abertas para que possas entrar e sair a sua vontade. Encontra-me na sacada vestida de vento, tragando meu último cigarro junto com o pouco de vida que me resta. A vitrola chora ao som de blues, as garrafas já estão vazias assim como minha alma solitária fadada à este destino. Sigo com o coração cheio de sonhos e o corpo marcado por aqueles que dele usufruem e depois o abandonam nesta mesma sacada.

4 de abril de 2011

Eu e Você

E então tu chegaste, cheia de brilhos, de cheiros, de sotaques e um jeito inigualável. Trocamos sorrisos, olhares e algum gosto incomum. Tuas palavras ainda ecoam em meu pensamento e não consigo te esquecer. Da tua cor, da tua pele e o toque que me fez tremer.

Consigo sentir, talvez até com a mesma intensidade, teus cabelos enrolados em minhas mãos. Cachos perfeitos, macios, deslizando por entre os dedos. O hálito quente sussurrando no meu ouvido. Palavras sem sentido, as quais não sucumbi. Está gravado em minh’alma, tão profundo, imponente como se nem que quisesse poderia tirar. Sinto teu cheiro no meu corpo, nas minhas mãos, sinto tua pele rente a minha, sinto o calor emanando dela, te sinto com o mesmo tino. É como se estivesse aqui me olhando, com aquele olhar penetrante, tão cabuloso, que não consigo me despistar dele. Sinto nossos corpos comprimidos e a vontade louca de se fundir. Incorporados como um só. Os suores escorrendo por entre nós dois, o peito arfante, a dor. Algo tão forte, mas tão cruel. Tua voz rouca ecoa aqui dentro, pedindo mais, querendo mais. Teus lábios doces encostados nos meus, a saliva percorrendo meu peito, as mãos, o desejo. Tudo está cravado em mim.

E neste momento onde estará? Pregando o mesmo desejo na alma de um outro qualquer. Ah, mulher... Se soubesses o quanto machuca não faria tal coisa novamente. Eu consigo ver com tanta perfeição teu sorriso lascivo, nossos olhares e a vontade surgir. Posso te sentir me tocando, tua força a me puxar para ti com tamanha euforia. Que fez de mim eu não sei. Seria capaz de encontrar-te agora neste instante, em qualquer lugar deste meu mundo, e entrar por tua roupa, passar por entre as pernas, os seios, beijar teu pescoço. Sentir tua pele arrepiada e tua mão em minha nuca me pedindo pra ficar. Mas onde estará?


Eu andava por aí, nem sei se perdida, mas andava. Sem rumo ia em direção do vento – rede moinho . Sabia que se eu deixasse por aqui os ventos ainda seriam capazes de jogá-los aos meus pés e invadir minhas entranhas, arranho, lanho, eu me descabelo, prometo o mundo, um filho, os deixo de quatro e escapo antes do crepúsculo chegar, levanto e sigo o vento.

Deixei provar meu sexo, mas não minha vida. Provar quem sou? Me reprovar por cair aos pés das camas alheias? Só provo aquele que me caia nas graças – pra ele desgraça – e me dê gargalhadas. Me desgarro sempre para seguir meus próprios passos, ir em frente com minhas próprias indecisões, me perder sozinha e me achar nos braços iludidos de outrem.

Mas se realmente precisa saber quem sou eu, onde eu estou comece a me procurar onde eu só poderia estar. Faça intervenções para que não me debruce em mais ninguém, que teus preceitos e angústias não existam mais. Que a falta que te faço também se extinga e assim você me possua por inteiro, rasgue minhas roupas e me dispa com ardor, selvagem como mereço, como te pedi. Me procure, me espere, pois estou eu no único lugar onde ainda não me procurou, onde nem mesmo a vida poderá me tirar de você, estou na sua imaginação e somente lá estaria, mas ainda pode me deixar escapar para outros laços.