26 de maio de 2011

Dilema de um Poeta

De que adianta usar de brandura
Para escrever chistes impuros
Se minhas palavras sempre serão
Incestuosas, maledicentes
E só falam de amores mórbidos
Esmorecentes

Contudo, ninguém sabe
O que é acalanto para um sonhador
O que é alimento para um trovador
É solidão irascível
Dor destemível
Desilusão

Felicidade é utopia
Amor singular não existe
Em par, somente, seria extinto
O que nos resta é o amor coletivo
Este sim é lenitivo
Para uma vida severa e sem sentido
Que nos persuade a viver com todos
Viver deles sem adesão
Levando a vida deveras em companhias
Mas eternamente em desertificação

18 de maio de 2011

pensamento

Tenho medo. Medo do que eu estou sentindo, do que eu estou vivendo acabar, acabar tão rápido como começou. E esse medo vez ou outra me bloqueia, me repele e não me deixa aconchegar nesse momento único. É tão estranho tudo isso, mas é que cada minuto está sendo tão singular e ímpeto que eu queria vivê-lo assim sempre, queria ter uma tecla de 'pause' ali naquela hora. Eu sei que não estou sendo 100 % eu mesma, que estou omitindo muita coisa e que talvez a conjuntura de opostos seja ideal, só que eu não consigo ter fé nisso. Enfim, estou mesmo é querendo aproveitar essa fase e viver, que Deus reja meu destino e faça dele à Sua vontade, aliás, é sempre bom acreditar em uma força Suprema, assim tira um pouco do fardo do nosso caminho, colocar a responsabilidade nas mãos de outrem.

Resumindo estou explicitamente feliz neste momento, fico tão extasiada que me pego rindo sozinha, delirando, enfim. Porém, nessa hora bate o medo, medo de não ser nada do que estou pensando... Vou aproveitar o presente e foda-se o que virá pela frente.

(Foi bom me decepcionar algumas vezes, isso me fez abrir os olhos para outros horizontes que antes estavam oblíquos à minha visão!)

4 de maio de 2011

Fim

Por entre runas, ruínas, fatos e fotos. Por entre medos, anseios, desejos, arrependimento. Por entre mãos, braços, abraços, apertos, boca, saliva, suor. Medo. Eu estou aqui dentre as recordações, entre as limitações, diante do fracasso.


Portas e janelas fechadas, coisas mortas, folhas secas, escuridão. Lembrança de um passado não tão distante, figurado, trincado e solitário. Derrotado desço as escadas, sorrio para o nada visando o outono que surgi para preparar o frio. Faz morrer para que possa renascer um dia, quem sabe. Percorro toda rua, entrelaçando as pernas, alternando meio-fio. Posso sentir as gotículas d'água, geladas, em minha face querendo se misturar às contrárias lágrimas quentes e inoportunas que insistem cair. Vagueando para tentar esquecer ou na verdade me encontrar, sozinho, sem interrupção. Caminho embebido em rancores e a certeza de que não volta mais.




Fim de linha, vejo o mar. Fecho os olhos e respiro a brisa, seu sorriso toca meu pensamento, seus dentes estão nele espelhando a sinceridade singular, marca sua que eu consegui destruir. Com as mãos no bolso sinto o frio pesado, os dedos dormentes encontram o papel amassado e a falta de coragem para escrever. Palavras bonitas não saem, trêmulas percorrem a grafia imperfeita de frases desconexas e inexpressivas, estas que, descrevem o toque de melancolia e a nostalgia profunda outorgando suicídio. O desespero trai o coração duro, feito de desilusões. Triste fim.


Sento no porto ao lado da minha consciência. Vazio. Minhas palavras insanas transbordam na folha que agora está sob uma pedra. O ponto final sela as últimas letras assim como a vida deste trovador. Quem sabe esta carta póstuma sirva para o perdão de alguém que nem eu mesmo consegui perdoar: a mim.


Quando cruzei a porta
Percorri o olhar a te procurar
Embora a certeza de que não estaria ali
Há lembranças que simplesmente não esqueci

Segui o mesmo caminho de anos
Tal qual sempre me levou até você
A poltrona vazia ainda estava lá
E seu sorriso...
Seus olhos marejados de alegria
Onde estará?

Todo o carinho que passou para mim
Me fez ser quem eu sou, assim
Eu aprendi muito contigo
Meu avô
Meu pai
Meu amigo

Infeliz quem não te conheceu
Porém, este não sentiu dor
Até nos últimos momentos você sorriu, pediu
"Estejam todos aqui"
Sua meta de vida sempre foi essa
Nos manter unidos
Acima de tudo, sem razão

E agora eu choro porque não sinto seu cheiro
Porque não ouço sua risada e suas palavras
É tão difícil não saber o porquê!

Se foi, mas deixou história e todo amor
Nenhum lirismo meu poderá te descrever
Guerreiro, herói? Não só isso
Simples ser humano
Sua alma está conosco ou no alabastro celestial?
Sua essência sim, seus ensinamentos
Sinto sua falta...

2 de maio de 2011

Fragmentos

Me mostre as razões para eu ficar e me dê motivos para não chorar. Fechou a porta e abriu um cais, foi demais... Me encolhi em posição fetal e chorei como uma criança. Por quantas horas eu não sei, pra mim pareceu uma eternidade.

Eu me lembro do seu último olhar ao virar as costas, das últimas palavras sopradas por sua boca: "Foi sem querer". Agora eu entendo sobre os poucos momentos que passamos, de nenhuma confidência que fizemos... A troca de olhares.

Tão rápido como de repente a chuva cai lá fora, mas me molha aqui. O céu chora o pranto profundo como meu coração partido.

25 de abril de 2011

Pro Rubens Milioli - Sem título

Impossível descrever quão glorioso é estar nos seus braços, pegar em você sem poder esperar, ansiando libidinosamente as prenuncias do nosso prazer. E quando você toca minha pele, morde delicada ou vorazmente meu pescoço, posso, com destreza, experimentar o delírio doce do ar quente que evapora dos seus lábios e aguçam meu lóbulo. Cada gota suave de adrenalina derramada no meu sangue faz pulsar esse querer e meu corpo pede toda sofreguidão de sentimentos. Pede seu peso sobre mim.

É o que acontece quando nossos corpos se tocam intrínsecos, fogo incendeia, queima e consome nossas almas. Por mais errôneo que seja – contrário – é o que detém nosso sabor, o paladar único de nós dois: amargo como metal e doce como mel. É a miscelânea de sabores que me faz sentir, o misto de prazer que me faz degustar.

E quando estamos agarrados um ao outro, boca com boca, pele com pele, pode-se ouvir o salutar dos nossos corações a bater juntos, uníssono. Chega a ser doloroso de tão intenso, chega a ser indecifrável de onde começa o eu e termina o você. Nosso prazer se fundiu naquilo que será um só, por uma noite antes que a tristeza volte e a saudade impere. Mas foi preciso... Pois foi só me perdendo em você que pude me encontrar.

6 de abril de 2011

Amante

Eis me aqui entre encantos delirantes, tenros e absurdos; eis me aqui para você. Para que experimente e se deleite suavemente, mas com hora para acabar. Entre e feche a porta, se dispa e se deite, já estou em aconchego a te esperar no nosso leito – nosso – por hoje e é assim.

Declame belas palavras, provoque os toques e carinhos, os anseios a que vem procurar. Estou aqui para ofertá-los e sabes que não peço nada em troca porque este é o meu lugar.

Estais aqui com toda esta aflição e me puxa para dentro de ti, te empurra para dentro de mim. Há tanto ódio e nenhum pudor. Desejos infinitos, cartas sobre a mesa e duas taças no chão. Recanto de paixão descompensada, de fúria e de força, de medos e de gozo. Sem espaço para problemas e cobrança, o que não torna menos cruel.

Então você vem e possui o meu corpo, simplesmente o entrego absorta e sinto uma vã solidão. Pois que sei que não se entrega completamente, apenas prova meu sexo e até quem sabe minha ira, deixando-me acompanhada de lágrimas, abraçando o travesseiro e em completo marasmo.

Outro dia retorna com a certeza de que as portas estarão abertas para que possas entrar e sair a sua vontade. Encontra-me na sacada vestida de vento, tragando meu último cigarro junto com o pouco de vida que me resta. A vitrola chora ao som de blues, as garrafas já estão vazias assim como minha alma solitária fadada à este destino. Sigo com o coração cheio de sonhos e o corpo marcado por aqueles que dele usufruem e depois o abandonam nesta mesma sacada.

4 de abril de 2011

Eu e Você

E então tu chegaste, cheia de brilhos, de cheiros, de sotaques e um jeito inigualável. Trocamos sorrisos, olhares e algum gosto incomum. Tuas palavras ainda ecoam em meu pensamento e não consigo te esquecer. Da tua cor, da tua pele e o toque que me fez tremer.

Consigo sentir, talvez até com a mesma intensidade, teus cabelos enrolados em minhas mãos. Cachos perfeitos, macios, deslizando por entre os dedos. O hálito quente sussurrando no meu ouvido. Palavras sem sentido, as quais não sucumbi. Está gravado em minh’alma, tão profundo, imponente como se nem que quisesse poderia tirar. Sinto teu cheiro no meu corpo, nas minhas mãos, sinto tua pele rente a minha, sinto o calor emanando dela, te sinto com o mesmo tino. É como se estivesse aqui me olhando, com aquele olhar penetrante, tão cabuloso, que não consigo me despistar dele. Sinto nossos corpos comprimidos e a vontade louca de se fundir. Incorporados como um só. Os suores escorrendo por entre nós dois, o peito arfante, a dor. Algo tão forte, mas tão cruel. Tua voz rouca ecoa aqui dentro, pedindo mais, querendo mais. Teus lábios doces encostados nos meus, a saliva percorrendo meu peito, as mãos, o desejo. Tudo está cravado em mim.

E neste momento onde estará? Pregando o mesmo desejo na alma de um outro qualquer. Ah, mulher... Se soubesses o quanto machuca não faria tal coisa novamente. Eu consigo ver com tanta perfeição teu sorriso lascivo, nossos olhares e a vontade surgir. Posso te sentir me tocando, tua força a me puxar para ti com tamanha euforia. Que fez de mim eu não sei. Seria capaz de encontrar-te agora neste instante, em qualquer lugar deste meu mundo, e entrar por tua roupa, passar por entre as pernas, os seios, beijar teu pescoço. Sentir tua pele arrepiada e tua mão em minha nuca me pedindo pra ficar. Mas onde estará?


Eu andava por aí, nem sei se perdida, mas andava. Sem rumo ia em direção do vento – rede moinho . Sabia que se eu deixasse por aqui os ventos ainda seriam capazes de jogá-los aos meus pés e invadir minhas entranhas, arranho, lanho, eu me descabelo, prometo o mundo, um filho, os deixo de quatro e escapo antes do crepúsculo chegar, levanto e sigo o vento.

Deixei provar meu sexo, mas não minha vida. Provar quem sou? Me reprovar por cair aos pés das camas alheias? Só provo aquele que me caia nas graças – pra ele desgraça – e me dê gargalhadas. Me desgarro sempre para seguir meus próprios passos, ir em frente com minhas próprias indecisões, me perder sozinha e me achar nos braços iludidos de outrem.

Mas se realmente precisa saber quem sou eu, onde eu estou comece a me procurar onde eu só poderia estar. Faça intervenções para que não me debruce em mais ninguém, que teus preceitos e angústias não existam mais. Que a falta que te faço também se extinga e assim você me possua por inteiro, rasgue minhas roupas e me dispa com ardor, selvagem como mereço, como te pedi. Me procure, me espere, pois estou eu no único lugar onde ainda não me procurou, onde nem mesmo a vida poderá me tirar de você, estou na sua imaginação e somente lá estaria, mas ainda pode me deixar escapar para outros laços.


30 de março de 2011

esquinas...

Ele atravessa essas ruas escuras, infames e difamantes. Segue tateando a escuridão sem ver um palmo a sua frente, mas segue. É firme nos seus propósitos e objetivos; ele está cansado de cair; ele está cansado de sangrar; ele não pode mais gritar e segue... É seu destino. Se agarra em qualquer fio de esperança e segue. Procura por portas, por brechas, por buracos e não encontra, pois não há, está tudo selado e ele não consegue ultrapassar. Ele não pode na verdade porque sente uma barreira invisível, uma barreira obscura feita de velhos rostos e solidão.


Anda e passa em todas as esquinas. Esquinas vazias, muitas pegadas e nenhum sinal de sobre vida. Agora consegue ver uma luz ou outra, vez enquando elas acendem e tornam-se a apagar em instantes, num piscar de olhos. Falar em olhos, agora ele se sente observado, sente algo sombrio por detrás, mas não teme. Ele já passou por isso e sabe ter cautela, sabe ter paciência. Sente-se incomodado aos olhos do observador e quando se estagna já não o sente mais, tão rápido quanto as luzes, os olhos se foram ou se fecharam para não o ver.


Ele pára em uma esquina, senta derrotado. Contempla as estrelas e pede forças para não desistir. Eis que vê a mais sublime forma emoldurada por uma luz ofuscante, parece estender-te a mão e ele oferece a sua em retorno, sem hesitar. Então se dá conta de ter sido apenas um sonho, uma visão. Pensa: será que estou aqui sozinho? Será que ninguém mais tentou? Não, óbvio que não. Ele insiste, as estrelas mandaram força e comprometimento, portanto ele segue. Levanta e sai da esquina, cambaleia no breu e continua trôpego, mas sóbrio e são. Tão certo da sua decisão.


Percebe passos, outros que correm pelas ruas. Serão estes que deixaram as pegadas que vira há pouco? Ele pára e se dá conta de que não está sozinho, na verdade, nunca esteve. Esse lugar misterioso, sombrio e impreciso é habitável e habitado. Parece não ter lugar pra ele, mas ele teve que ter certeza disso sentindo presenças inconstantes, aqui é cada um por si. O amor não desistiu só que agora já sabe, muitos entram, alguns ficam, porém, não é possível domá-lo, dominá-lo. Só entende quem vive aqui e se acostuma, esse lugar é meu coração e ele é terra de ninguém.
"Não é porque certas coisas não mudam, que significa que elas sejam imutáveis. A mudança precisa vir do âmago e não devemos esperar que seja recíproca."
Eu viajo com os pés no chão. Fecho os olhos e me teletransporto. Tenho idéias tão loucas que só na minha cabeça já me fazem delirar. Consigo sentir esse prazer na ponta da língua, nos meus ouvidos e na pele arrepiada.


Quem me vê nesse transe lúdico deve ter as mais diversas concepções, e quem disse que eu me importo? Sou um louco assumido, viajo a toda hora, minha cabeça é cheia de países, sonhos, pessoas e até mundos. Vivo munido de toda fertilidade de pensamentos, imaginações... Os olhos fechados são meu passaporte.


Isso é importante? Não, só mais um devaneio meu. Quando abro os olhos volto à realidade insossa, desgastante, que consome minhas energias, mas não me proporciona nenhum prazer.

29 de março de 2011

Adrenalina

É que meu coração é movido a altas doses de adrenalina. Se ele não acelerar sempre não consigo viver. Não gosto de nada morno, eu gosto do que me tira o fôlego e me faz flutuar... Por isso sou uma colecionadora de amigos, amores e muitas aventuras.


E são essas emoções que, por vezes, me deixam em êxtase supremo, que me dão a sensação de que os pés tocam o chão somente quando necessário e quando não estou com um amigo a mil gargalhadas - sem medir os decibéis - com um amante em delírios, em planaltos sobre meus saltos ou por aí, por qualquer lugar me aventurando só ou acompanhada de alguém que não eu mesma.


Mas ainda que pudesse ser possuída por tais mãos, boas ou ruins, de mãos dadas ou entrelaçadas em meu entorno e eu em torno delas, não buscando firmeza, mas sim o calor ardente que me faz sentir viva e novamente pronta pra me aventurar por qualquer destino e para abraçar meus amigos. Apenas para guardar vocês em meus copos de cristal.


É essa adrenalina que faz bombear a minha vida e quem não puder me acompanhar que nem venha. Não se atreva! Só pode estar aqui quem ousa e quem gosta de uma boa dose de "tudo um pouco". Porque eu me arrisco e essa é a essência do meu ser, e se quiser que me aceite deste jeito. Sem tirar nem pôr!




-




Textinho desenvolvido por mim e pelo Rubens, pessoa que descobri ter o mesmo gosto exótico pela escrita tanto quanto eu (rs). Abaixo um texto de Gabriel García Màrquez, que segundo minha irmã, é uma idéia parecida com a do texto acima:


"Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei sentir em doses homeopáticas. Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja.


Não me apetece ver histórias medíocres, paixões não correspondidas e pessoas água com açúcar. Não sei brincar e ser café com leite. Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma, que tenha coragem suficiente pra me dizer o que sente antes, durante e depois ou que invente boas estórias caso não possa vivê-las. Porque eu acho sempre muitas coisas - porque tenho uma mente fértil e delirante - e porque posso achar errado - e ter que me desculpar - e detesto pedir desculpas embora o faça sem dificuldade se me provarem que eu estraguei tudo achando o que não devia.


Quero grandes histórias e estórias; quero amor e ódio; quero o mais, o demais ou o nada. Não me importa o que é de verdade ou o que é de mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e me fazer crêr que é para sempre quando digo convicto que "nada é para sempre"."




nota: No meu texto eu denoto a palavra adrenalina no seu sentido mais puro, e acho que no texto do García fica mais explícito o que é a adrenalina no nosso contexto: algo que realmente nos faz liberar e sentir prazer. O que não necessáriamente precisa ser um ato, mas sim, a vontade e coragem de sempre ir mais além, sem medir os riscos. Porque independente do que resulte, o momento é que faz transpirar a adrenalina, passando por cima dos medos e vivendo sem meio termos, sendo precisos e principalmente sem pensar no que há de vir amanhã.

11 de janeiro de 2011

Carta nº 147

"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está , que tem saudade... Sei lá de quê!"

(Florbela Espanca)

6 de janeiro de 2011

Amar

Muito tempo sem escrever aqui, mais de um ano! Nossa!
Fiz um textinho meio melancólico e achei bem legal. Defini (no meu ponto de vista) alguns aspectos que normalmente não conseguimos ver.

Lê:

"Quando nós amamos alguém doamos um pedaço de nós, seja sentimento, seja um pouco do nosso jeito, da nossa personalidade. Carinho, amor, tanto faz, mas sempre doamos esse pedaço do nosso 'eu'! Quando nos separamos, seja de um amor ou de um amigo, quando a perda é dolorosa, assistimos o retorno desse 'eu' nosso, esse pedaço que foi doado. Ele volta e com isso, aos poucos, voltamos a ser o que éramos. É como uma célula-tronco, que é extraída e depois colocada no lugar, regenera o pedaço ruim. Mesmo que a gente ache que é o fim, não é! É só mais uma passagem pela qual temos que passar e aquele pedacinho que foi dado e voltou, fica guardado e é doado novamente e recuperado sempre quando necessário. A separação é isso: a dor de perder, mas o prazer de recuperar, de ter de volta e regenerar...
Quando essa pessoa, receptora do nosso eu, se vai, tipo para sempre, para o outro lado da ponte, para o céu, ou seja, quando morre, este pedaço que doamos vai junto, a gente não consegue recuperar. E então é aí que surge o vazio, aquele sentimento de que não há com que preencher, dói muito e é dor física e dor na alma. Passa tempo e o que fica a saudade, a falta, aquele 'eu' que se foi e não voltará. Essa caminhada se torna difícil e tortuosa, mas ainda assim, nós seres-humanos, ainda somos capazes de doar, de se dar sem querer receber. Nós estamos sempre dispostos à dar um pedaço de nós e às vezes, a receber um pedaço de outro. Não importa o quanto se vá sofrer, o quanto vai doer, nós somos assim, prometemos o nunca mais que só dura até amanhã; nós somos assim feitos de amor e feitos para doar sempre e receber algumas vezes. Mesmo que a gente prometa não dá, é da nossa natureza amar sempre, amar contra vontade, mas amar... Amar infinitas formas de amor."