30 de março de 2011

esquinas...

Ele atravessa essas ruas escuras, infames e difamantes. Segue tateando a escuridão sem ver um palmo a sua frente, mas segue. É firme nos seus propósitos e objetivos; ele está cansado de cair; ele está cansado de sangrar; ele não pode mais gritar e segue... É seu destino. Se agarra em qualquer fio de esperança e segue. Procura por portas, por brechas, por buracos e não encontra, pois não há, está tudo selado e ele não consegue ultrapassar. Ele não pode na verdade porque sente uma barreira invisível, uma barreira obscura feita de velhos rostos e solidão.


Anda e passa em todas as esquinas. Esquinas vazias, muitas pegadas e nenhum sinal de sobre vida. Agora consegue ver uma luz ou outra, vez enquando elas acendem e tornam-se a apagar em instantes, num piscar de olhos. Falar em olhos, agora ele se sente observado, sente algo sombrio por detrás, mas não teme. Ele já passou por isso e sabe ter cautela, sabe ter paciência. Sente-se incomodado aos olhos do observador e quando se estagna já não o sente mais, tão rápido quanto as luzes, os olhos se foram ou se fecharam para não o ver.


Ele pára em uma esquina, senta derrotado. Contempla as estrelas e pede forças para não desistir. Eis que vê a mais sublime forma emoldurada por uma luz ofuscante, parece estender-te a mão e ele oferece a sua em retorno, sem hesitar. Então se dá conta de ter sido apenas um sonho, uma visão. Pensa: será que estou aqui sozinho? Será que ninguém mais tentou? Não, óbvio que não. Ele insiste, as estrelas mandaram força e comprometimento, portanto ele segue. Levanta e sai da esquina, cambaleia no breu e continua trôpego, mas sóbrio e são. Tão certo da sua decisão.


Percebe passos, outros que correm pelas ruas. Serão estes que deixaram as pegadas que vira há pouco? Ele pára e se dá conta de que não está sozinho, na verdade, nunca esteve. Esse lugar misterioso, sombrio e impreciso é habitável e habitado. Parece não ter lugar pra ele, mas ele teve que ter certeza disso sentindo presenças inconstantes, aqui é cada um por si. O amor não desistiu só que agora já sabe, muitos entram, alguns ficam, porém, não é possível domá-lo, dominá-lo. Só entende quem vive aqui e se acostuma, esse lugar é meu coração e ele é terra de ninguém.

3 comentários:

  1. Como já havia dito antes isso aqui me fez lembrar muito das minhas poesias, mais especificamente numa época mais boêmia. Tudo aqui sou eu que até teve gente perguntando se eu tive partição nesse poema. Até eu achei que estava contando a minha história pq é igual... muito bom trabalho...

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  2. maravilhoso linda....eh incrivel como vc nos faz imaginar...viajar....e delirar nas suas palavras que nem sempre sao de felicidade...mas que mesmo assim n nos deixa parar de ler ateh o final....parabens e obrigada!

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