6 de abril de 2011

Amante

Eis me aqui entre encantos delirantes, tenros e absurdos; eis me aqui para você. Para que experimente e se deleite suavemente, mas com hora para acabar. Entre e feche a porta, se dispa e se deite, já estou em aconchego a te esperar no nosso leito – nosso – por hoje e é assim.

Declame belas palavras, provoque os toques e carinhos, os anseios a que vem procurar. Estou aqui para ofertá-los e sabes que não peço nada em troca porque este é o meu lugar.

Estais aqui com toda esta aflição e me puxa para dentro de ti, te empurra para dentro de mim. Há tanto ódio e nenhum pudor. Desejos infinitos, cartas sobre a mesa e duas taças no chão. Recanto de paixão descompensada, de fúria e de força, de medos e de gozo. Sem espaço para problemas e cobrança, o que não torna menos cruel.

Então você vem e possui o meu corpo, simplesmente o entrego absorta e sinto uma vã solidão. Pois que sei que não se entrega completamente, apenas prova meu sexo e até quem sabe minha ira, deixando-me acompanhada de lágrimas, abraçando o travesseiro e em completo marasmo.

Outro dia retorna com a certeza de que as portas estarão abertas para que possas entrar e sair a sua vontade. Encontra-me na sacada vestida de vento, tragando meu último cigarro junto com o pouco de vida que me resta. A vitrola chora ao som de blues, as garrafas já estão vazias assim como minha alma solitária fadada à este destino. Sigo com o coração cheio de sonhos e o corpo marcado por aqueles que dele usufruem e depois o abandonam nesta mesma sacada.

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