4 de maio de 2011

Fim

Por entre runas, ruínas, fatos e fotos. Por entre medos, anseios, desejos, arrependimento. Por entre mãos, braços, abraços, apertos, boca, saliva, suor. Medo. Eu estou aqui dentre as recordações, entre as limitações, diante do fracasso.


Portas e janelas fechadas, coisas mortas, folhas secas, escuridão. Lembrança de um passado não tão distante, figurado, trincado e solitário. Derrotado desço as escadas, sorrio para o nada visando o outono que surgi para preparar o frio. Faz morrer para que possa renascer um dia, quem sabe. Percorro toda rua, entrelaçando as pernas, alternando meio-fio. Posso sentir as gotículas d'água, geladas, em minha face querendo se misturar às contrárias lágrimas quentes e inoportunas que insistem cair. Vagueando para tentar esquecer ou na verdade me encontrar, sozinho, sem interrupção. Caminho embebido em rancores e a certeza de que não volta mais.




Fim de linha, vejo o mar. Fecho os olhos e respiro a brisa, seu sorriso toca meu pensamento, seus dentes estão nele espelhando a sinceridade singular, marca sua que eu consegui destruir. Com as mãos no bolso sinto o frio pesado, os dedos dormentes encontram o papel amassado e a falta de coragem para escrever. Palavras bonitas não saem, trêmulas percorrem a grafia imperfeita de frases desconexas e inexpressivas, estas que, descrevem o toque de melancolia e a nostalgia profunda outorgando suicídio. O desespero trai o coração duro, feito de desilusões. Triste fim.


Sento no porto ao lado da minha consciência. Vazio. Minhas palavras insanas transbordam na folha que agora está sob uma pedra. O ponto final sela as últimas letras assim como a vida deste trovador. Quem sabe esta carta póstuma sirva para o perdão de alguém que nem eu mesmo consegui perdoar: a mim.


2 comentários:

  1. Vou ao mar recolher esta carta... eu te dou o perdão por escrever essas lindas frases, eu vou contigo pro mar não levar suas letras... eu vou contigo...

    ResponderExcluir
  2. Esperanças que se esvaem... uma sucessão de dor... Quimera vida eu queria... Ser um trovador apenas não mais serei. Deixo aqui minhas lembranças fúnebres, lembre de mim. Eu te peço.

    ResponderExcluir