Ele atravessa essas ruas escuras, infames e difamantes. Segue tateando a escuridão sem ver um palmo a sua frente, mas segue. É firme nos seus propósitos e objetivos; ele está cansado de cair; ele está cansado de sangrar; ele não pode mais gritar e segue... É seu destino. Se agarra em qualquer fio de esperança e segue. Procura por portas, por brechas, por buracos e não encontra, pois não há, está tudo selado e ele não consegue ultrapassar. Ele não pode na verdade porque sente uma barreira invisível, uma barreira obscura feita de velhos rostos e solidão.
Anda e passa em todas as esquinas. Esquinas vazias, muitas pegadas e nenhum sinal de sobre vida. Agora consegue ver uma luz ou outra, vez enquando elas acendem e tornam-se a apagar em instantes, num piscar de olhos. Falar em olhos, agora ele se sente observado, sente algo sombrio por detrás, mas não teme. Ele já passou por isso e sabe ter cautela, sabe ter paciência. Sente-se incomodado aos olhos do observador e quando se estagna já não o sente mais, tão rápido quanto as luzes, os olhos se foram ou se fecharam para não o ver.
Ele pára em uma esquina, senta derrotado. Contempla as estrelas e pede forças para não desistir. Eis que vê a mais sublime forma emoldurada por uma luz ofuscante, parece estender-te a mão e ele oferece a sua em retorno, sem hesitar. Então se dá conta de ter sido apenas um sonho, uma visão. Pensa: será que estou aqui sozinho? Será que ninguém mais tentou? Não, óbvio que não. Ele insiste, as estrelas mandaram força e comprometimento, portanto ele segue. Levanta e sai da esquina, cambaleia no breu e continua trôpego, mas sóbrio e são. Tão certo da sua decisão.
Percebe passos, outros que correm pelas ruas. Serão estes que deixaram as pegadas que vira há pouco? Ele pára e se dá conta de que não está sozinho, na verdade, nunca esteve. Esse lugar misterioso, sombrio e impreciso é habitável e habitado. Parece não ter lugar pra ele, mas ele teve que ter certeza disso sentindo presenças inconstantes, aqui é cada um por si. O amor não desistiu só que agora já sabe, muitos entram, alguns ficam, porém, não é possível domá-lo, dominá-lo. Só entende quem vive aqui e se acostuma, esse lugar é meu coração e ele é terra de ninguém.